segunda-feira, 3 de outubro de 2011
sábado, 2 de julho de 2011
numa noite dum outro ano, a luz em sugestão, iluminava-te. desconhecia-a, e desconhecia-te. as palavras nao foram mais que poucas. nao me preocupei. nao te preocupaste.
porquê, para quê'?(na verdade)
nao era esse o propósito. nao esse, nem outro qualquer. e permanecemos assim até nos darmos conta da dimensão que se tinha assumido. em ambas as vidas. em ambas as existências. não sei onde e quando chegámos ou como sequer partimos, ou o que se seguirá.
sabes? eu nao sei.
nao quero. nao me importa.
em diferentes moradas, no mesmo meridiano, nada havia a menos que uma não falada ou ecoada vontade de partilhar um prolongamento de nós (eu e tu, evitando o erro da leitura).
prolonguei-me mais.
detiveste-te, até há pouco.
e em cada segundo,
sabes?
havia uma quebrada sensação da existência de palavras - confissões, sim - por dizer. por tocar, por confessar, no fim. não o tinha em certeza - como poderia? -, subsistia no teu substracto esse silêncio. em paralelo, adensava-se o que nunca foi dito.
silêncio.
quebrado.
como quebras uma esquina.
no outro dia. no momento errado, da forma errada, com a coragem certa.
que medo? que coisa absurda havias suposto? que raio? nada muda. engrandece-se. que exista o que existir, nada muda. sem adjectivos que comprometam coisa alguma. antes, outros, e verbos, que se expressam, sem restrições ou ensaios.
em paralelo, adensou-se - e expressou-se - o que agora foi dito.
gosto incrivelmente de ti.
e a prisão das palavras que surgiram - surgem -, provoca-me a demência - quase - de querer dizer mais e nao poder. quero. disse-to no outro dia. mas nao assim.
nao em momentos errados,
ou de formas erradas.
chegaram (-te), porque foram mais fáceis.
sem julgamento.
quero agora. e evitem-se majorações de coisa alguma. quero poder sentir cada sentido abstracto e objectivo das palavras. quero saber, quero saber-te. quero que saibas as outras todas que provocaste entretanto.
nao cabem em mim.
desconheço o que posso fazer com elas.
e não me chegam, também.
aproxima-te. encontra o momento certo. a forma certa. todo o tempo em ti é teu, e todas as expressões também. fala-me de novo. aqui e agora.
abraço-te
posso? (claro que sim)
como nunca o fiz. e sei que senti-lo-ás.
és tu. tu em ti.
nada muda.
minto.
muda. e tanto. para algo ainda maior.
porquê, para quê'?(na verdade)
nao era esse o propósito. nao esse, nem outro qualquer. e permanecemos assim até nos darmos conta da dimensão que se tinha assumido. em ambas as vidas. em ambas as existências. não sei onde e quando chegámos ou como sequer partimos, ou o que se seguirá.
sabes? eu nao sei.
nao quero. nao me importa.
em diferentes moradas, no mesmo meridiano, nada havia a menos que uma não falada ou ecoada vontade de partilhar um prolongamento de nós (eu e tu, evitando o erro da leitura).
prolonguei-me mais.
detiveste-te, até há pouco.
e em cada segundo,
sabes?
havia uma quebrada sensação da existência de palavras - confissões, sim - por dizer. por tocar, por confessar, no fim. não o tinha em certeza - como poderia? -, subsistia no teu substracto esse silêncio. em paralelo, adensava-se o que nunca foi dito.
silêncio.
quebrado.
como quebras uma esquina.
no outro dia. no momento errado, da forma errada, com a coragem certa.
que medo? que coisa absurda havias suposto? que raio? nada muda. engrandece-se. que exista o que existir, nada muda. sem adjectivos que comprometam coisa alguma. antes, outros, e verbos, que se expressam, sem restrições ou ensaios.
em paralelo, adensou-se - e expressou-se - o que agora foi dito.
gosto incrivelmente de ti.
e a prisão das palavras que surgiram - surgem -, provoca-me a demência - quase - de querer dizer mais e nao poder. quero. disse-to no outro dia. mas nao assim.
nao em momentos errados,
ou de formas erradas.
chegaram (-te), porque foram mais fáceis.
sem julgamento.
quero agora. e evitem-se majorações de coisa alguma. quero poder sentir cada sentido abstracto e objectivo das palavras. quero saber, quero saber-te. quero que saibas as outras todas que provocaste entretanto.
nao cabem em mim.
desconheço o que posso fazer com elas.
e não me chegam, também.
aproxima-te. encontra o momento certo. a forma certa. todo o tempo em ti é teu, e todas as expressões também. fala-me de novo. aqui e agora.
abraço-te
posso? (claro que sim)
como nunca o fiz. e sei que senti-lo-ás.
és tu. tu em ti.
nada muda.
minto.
muda. e tanto. para algo ainda maior.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
norte e sul
Entrei e não te vi, desculpa - desculpas-me?. julguei-te ausente da verosimilhança que te rodeava. da minha também.
(não o tornes pessoal)
Já me doem os olhos de te querer vislumbrar em certos contornos que me lembrariam imagens que guardo em abstracto - porque se criaram, também, assim.
e tu, ausente.
Entrei e não te vi. E voltei a sair. sem te ver. não guardes rancor, que já há de sobra. por aí. apenas andamos alheados desta quotidianice que nos submerge, involuntariamente. eu na minha, tu na tua. separados, em dimensões distintas. (não percebo, ainda hoje, porque tarda o dia para serem as mesmas) já não me retenho nem detenho aí.
(não o tornes pessoal)
mas também não me cansei, já. alento disto e daquilo, em porções pequenas, que aparentam os vislumbres. ma nunca são, porque não te vejo. e em ver-te, seriam verosimilhanças. ou quase. verdade, nunca chegam a ser em pleno
(mas conforta acreditar que sim)
e acreditar? o que é isso? houve dias que me mentias descaradamente, e eu deixava. mas não eras tu, sei agora.
porque entrei e não te vi.
hoje falas-me baixinho, em sussurro, mal te ouço. aqui e ali. nesta morada ou noutra qualquer. em esquizofrenias conscientes, porque assim tem de ser. e de todas as vezes não és tu. não me esqueci que não te vi. e imagino-te em certos dias.
naqueles que mais nada de interessante me ocorre.
(não o tornes pessoak)
é um bom exercício de argumentista, que serei nunca. mas gosto das cores e cheiros e texturas e sabores e sensações dessa deambulante imaginação. e aí vejo-te, em que te escorre a luz e te sabem as palavras. real e irredutível.
(não o tornes pessoal)
Já me doem os olhos de te querer vislumbrar em certos contornos que me lembrariam imagens que guardo em abstracto - porque se criaram, também, assim.
e tu, ausente.
Entrei e não te vi. E voltei a sair. sem te ver. não guardes rancor, que já há de sobra. por aí. apenas andamos alheados desta quotidianice que nos submerge, involuntariamente. eu na minha, tu na tua. separados, em dimensões distintas. (não percebo, ainda hoje, porque tarda o dia para serem as mesmas) já não me retenho nem detenho aí.
(não o tornes pessoal)
mas também não me cansei, já. alento disto e daquilo, em porções pequenas, que aparentam os vislumbres. ma nunca são, porque não te vejo. e em ver-te, seriam verosimilhanças. ou quase. verdade, nunca chegam a ser em pleno
(mas conforta acreditar que sim)
e acreditar? o que é isso? houve dias que me mentias descaradamente, e eu deixava. mas não eras tu, sei agora.
porque entrei e não te vi.
hoje falas-me baixinho, em sussurro, mal te ouço. aqui e ali. nesta morada ou noutra qualquer. em esquizofrenias conscientes, porque assim tem de ser. e de todas as vezes não és tu. não me esqueci que não te vi. e imagino-te em certos dias.
naqueles que mais nada de interessante me ocorre.
(não o tornes pessoak)
é um bom exercício de argumentista, que serei nunca. mas gosto das cores e cheiros e texturas e sabores e sensações dessa deambulante imaginação. e aí vejo-te, em que te escorre a luz e te sabem as palavras. real e irredutível.
sábado, 2 de abril de 2011
268
268. eram sacos de compras aqueles que me carregaram para dentro desse tosco encarnado. vocês. sentados. lado a lado. ele de olhos em brilho. tu de olhos baços. de tão baços turvaram por instantes a redoma que, aparentemente, te afastava dele. do resto do mundo. ele abraçou-te, beijou-te. e nem isso te demoveu. tu insípida e ausente. ele transbordava e presenciava o amor, o dele. só dele. disse-te algo ao ouvido que, deduzi, fosse uma declaração apaixonada. não estremeceste. ou sequer retribuiste. entraram numa mesma estação, deduzo, e houve uma outra que vos separou. ele saiu, carregandos uns cilindros que continham tinta (com que te pintaria, numa parede qualquer - especial; imaginei eu, qual acto de amor em tempos de cólera!), olhou incontáveis vezes, lá fora, fez aquelas figuras rídiculas que qualquer um faz quando a paixão e amor batem à porta. mandou-te beijos numa mão que te tinha acarinhado antes. o encarnado avançou, em compasso lento. e ele lado a lado. tu dentro, ele fora. da redoma, do encarnado. fez-te adeus e sorriu-te. tu timidamente cedeste por uma vez. ele avançou e ultrapassou. e ficou à tua espera, mais adiante. olhaste para o lado contrário, evitando-o. e, senti eu, o olhar mais perdido e desconsolado dos últimos tempos. quase pude ver e tocar as palavras dele - "olha para mim!e sente-me." . mas tu evitaste-o. ele ama-te. tu não.
domingo, 27 de março de 2011
London Again
bom, que dizer passado um mês de ausência? que dizer quando a vida muda em menos de nada? que dizer quando se nos inundam as mais belas cores que esventram um cinzentismo abstracto que se ia adensando? que dizer, raios, quando tudo parecia irreversível? que dizer ou escrever - tanto me faz - quando se decide onde se quer estar? que dizer quando já se consideravam outras tantas hipóteses para dar um novo rumo à vida? que dizer quando se investe incessantemente, e se acredita - mesmo que tudo diga o contrário - e se chega? que dizer depois de tantos serem os dias em que nada mais sobrava em mim que vontade, e só (e tanto)? que dizer depois de tantos serem os dias, também, em que vislumbrava pouco mais que nada? que dizer quando se desperta algo há tanto tempo dormente paralelamente a esta demanda? que dizer, no fim, quando estou onde quero estar, a fazer o que amo fazer, junto de pessoas que significam tanto para mim? eu digo: felicidade. A felicidade reinventa-se. A felicidade procura-se e acredita-se. mesmo que não tenhamos os pilares essenciais da nossa vida na mesma dimensão física. mesmo que as dúvidas sejam mais que as certezas. mesmo que o conforto seja trémulo, uma vez mais, ao (re)início. mesmo que se deixem para trás - sem deixar, efectivamente - pessoas e momentos e lugares que fazem parte de mim. mesmo que tudo seja novo, novamente novo. mesmo que me detenha, pense, sinta e reconheça: não é fácil - porque não é - mas vale cada segundo em que se chega quase a não acreditar. Mas acredita-se sempre. Sempre.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
dare an evol.ution
que me evitem os economicistas,
que me desculpem os estrategas,
que me repudiem os incrédulos,
que me escusem os contratualistas:
Regras? Concessões? Condições?
Guardem-nas todas.
Porque as não pretendo possuir.
Percentagens? Fracções? Porções?
Somo-as todas.
E que sejam inteiras em Sentir.
Quero lá saber das ordens
Das tácticas e jogadas
Das permissões - minhas
Das atitudes silenciadas
Quero lá saber dessas coisas
Das defesas que se tecem
Quero lá saber! Quero lá saber!
Porque em mim não pertencem.
Não em mim.
Não sou, não sinto, não persigo
Não me entrego, não respiro, não faço
Não desejo, não quero, não digo
Não sonho, não toco, não abraço
Não vivo, não vivo, não vivo
Não amo, não amo, não amo
Em metades. Metades.
que nos encontrem os despojados
que nos queiram os verdadeiros
que nos abracem os inteiros
que nos aceitem os desejados.
Quanto desejo de entrega
Quanto ser, quanto sentir,
Quanto digo e não digo
Quantos abraços queridos
Quanto vivo? Quanto amo?
Com tudo, a.té.
que me desculpem os estrategas,
que me repudiem os incrédulos,
que me escusem os contratualistas:
Regras? Concessões? Condições?
Guardem-nas todas.
Porque as não pretendo possuir.
Percentagens? Fracções? Porções?
Somo-as todas.
E que sejam inteiras em Sentir.
Quero lá saber das ordens
Das tácticas e jogadas
Das permissões - minhas
Das atitudes silenciadas
Quero lá saber dessas coisas
Das defesas que se tecem
Quero lá saber! Quero lá saber!
Porque em mim não pertencem.
Não em mim.
Não sou, não sinto, não persigo
Não me entrego, não respiro, não faço
Não desejo, não quero, não digo
Não sonho, não toco, não abraço
Não vivo, não vivo, não vivo
Não amo, não amo, não amo
Em metades. Metades.
que nos encontrem os despojados
que nos queiram os verdadeiros
que nos abracem os inteiros
que nos aceitem os desejados.
Quanto desejo de entrega
Quanto ser, quanto sentir,
Quanto digo e não digo
Quantos abraços queridos
Quanto vivo? Quanto amo?
Com tudo, a.té.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
as espécies de epifanias que se adormecem no sono, e se esquecem
sei que ontem, ao adormecer, conjuguei uma qualquer frase - não era assim tão qualquer - que tinha decidido escrever hoje e daí resultaria um texto, hipoteticamente. Não escrevi, porque não me lembro. Apenas de fragmentos, e os que não me lembro tendem a não se me afluir à mente. E isto, juro, que me irrita. Lembro-me de fragmentos, mas que são disconexos quando aparecem fora do contexto em que os pensei. Não interessa, porque não me lembro.
Anunciam-se, espero, tempos de mudança. Novamente. Coisa que tem pautado a minha vida nos últimos tempos. Por vezes cansa-me pensar quantas vezes já me pus à prova. Na maioria das vezes, é o que me faz desafiar tudo novamente. Uma possibilidade que me deixa no coração o sabor agri-doce, mas tudo o que se revela, primeiramente, por ser dual, revela-se - SEMPRE - por ser o que equilibra tudo e no fim apenas e só resta a tamanha e imensurável sensação de tudo o quanto vivemos. E isso é intocável.
Anunciam-se, espero, tempos de mudança. Novamente. Coisa que tem pautado a minha vida nos últimos tempos. Por vezes cansa-me pensar quantas vezes já me pus à prova. Na maioria das vezes, é o que me faz desafiar tudo novamente. Uma possibilidade que me deixa no coração o sabor agri-doce, mas tudo o que se revela, primeiramente, por ser dual, revela-se - SEMPRE - por ser o que equilibra tudo e no fim apenas e só resta a tamanha e imensurável sensação de tudo o quanto vivemos. E isso é intocável.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Obrigatório ler. Essencial reflectir. Urgente Agir.
Tudo o que espoliámos à “geração sem remuneração”, José Manuel Fernandes
Para uns terem “direitos adquiridos” para sempre, outros ficaram sem direitos nenhuns: os mais novos, os nossos filhos.
Quando o FMI chegou pela segunda vez a Portugal, em 1983, eu tinha 26 anos. Num daqueles dias de ambiente pesado, quando havia bandeiras pretas hasteadas nos portões das fábricas da periferia de Lisboa, quando nos admirávamos com ser possível continuar a viver e a trabalhar com meses e meses de salários em atraso, almocei com um incorrigível optimista no Martinho da Arcada. Nunca mais me esqueci de uma sua observação singela: “Já reparaste como, apesar de todos os actuais problemas, a nossa geração vive melhor do que as dos nossos pais? Tenta lembrar-te de como era quando eras miúdo…”
Era verdade: a minha geração viveu e vive muito melhor do que a dos seus pais. E eles já viveram melhor do que os pais deles. Mas quando olho para a geração dos meus filhos, e dos que são mais novos do que eles, sinto, sei, que já não vai ser assim. E não vai ser assim porque nós estragámos tudo – ou ajudámos a estragar tudo. Talvez aqueles que são um bocadinho mais velhos do que eu, os verdadeiros herdeiros da “geração de 60”, os que ocuparam o grosso dos lugares do poder nas últimas três décadas, tenham um bocado mais de responsabilidade. Mas ninguém duvide que o futuro que estamos a deixar aos mais novos é muito pouco apetecível. E que o seu presente já é, em muitos aspectos, insuportável.
Começámos por lhes chamar a “geração 500 euros”, pois eram licenciados e muitos não conseguiam empregos senão no limiar do salário mínimo. Agora é ainda pior. Quase um em cada quatro pura e simplesmente não encontram emprego (mais de 30 por cento se tiverem um curso superior). Dos que encontram, muitos estão em “call centers”, em caixas de supermercados, ao volante de táxis, até com uma esfregona e um balde nas mãos apesar de terem andado pela Universidade e terem um “canudo”. Pagam-lhes contra recibos verdes e, agora, o Estado ainda lhes vai aplicar uma taxa maior sobre esse muito pouco que recebem. Vão ficando por casa dos pais, adiando vidas, saltitando por aqui e por ali com medo de compromissos.
Há 30 anos, quando Rui Veloso fixou um estereótipo da minha geração em “A rapariguinha do Shopping”, a letra do Carlos Tê glosava a vaidade de gente humilde em ascensão social, fosse lá isso o que fosse: “Bem vestida e petulante/Desce pela escada rolante/Com uma revista de bordados/Com um olhar rutilante/E os sovacos perfumados/…/Nos lábios um bom batom/Sempre muito bem penteada/Cheia de rimel e crayon…”
Hoje, quando os Deolinda entusiasmam os Coliseus de Lisboa e do Porto, o registo não podia ser mais diferente: “Sou da geração sem remuneração/E não me incomoda esta condição/Que parva que eu sou/Porque isto está mal e vai continuar/Já é uma sorte eu poder estagiar…” Exacto: “Já é uma sorte eu poder estagiar”, ou mesmo trabalhar só pelo subsídio de refeição, ou tentar a bolsa para o pós-doc depois de ter tido bolsa para o doutoramento e para o mestrado e nenhuma hipótese de emprego. Sim, “Que mundo tão parvo/Onde para ser escravo é preciso estudar…”
É a geração espoliada. A geração que espoliámos.
Sem pieguices, sejamos honestos: na loucura revolucionária do pós-25 de Abril, primeiro, depois na euforia da adesão à CEE, por fim na corrida suicida ao consumo desencadeada pela adesão à moeda única e pelos juros baixos, desbaratámos numa geração o rendimento de duas gerações. Talvez mais. As nossas dívidas, a pública e a privada, já correspondem a três vezes o produto nacional – e não vamos ser nós a pagá-las, vamos deixá-las de herança.
Quisemos tudo: bons salários, sempre a subir, e segurança no emprego; casa própria e casa de férias; um automóvel para todos os membros da família; o telemóvel e o plasma; menos horas de trabalho e a reforma o mais cedo possível. Pensámos que tudo isso era possível e, quando nos avisaram que não era, fizemos como as lapas numa rocha batida pelas ondas: enquistámos nas posições que tínhamos alcançado. Começámos a falar de “direitos adquiridos”. Exigimos cada vez mais o impossível sem muita disposição para darmos qualquer contrapartida. Eram as “conquistas de Abril”.
Veja-se agora o país que deixamos aos mais novos. Se quiserem casa, têm de comprá-la, pois passaram-se décadas sem sermos capazes de ter uma lei das rendas decente: continuamos com os centros das cidades cheios de velhos e atiramos os mais novos para as periferias. Se quiserem emprego, mesmo quando são mais capazes, mesmo quando têm muito mais formação, ficam à porta porque há demasiada gente instalada em empregos que tomaram para a vida. Andaram pelas Universidades mas sabem que, nelas, os quadros estão praticamente fechados. Quando têm oportunidade num instituto de investigação, dão logo nas vistas, mas são poucas as oportunidades para tanta procura. Pensaram ser professores mas foram traídos pela dinâmica demográfica e pela diminuição do número de alunos. Sonharam com um carreira na advocacia, mas agora até a sua Ordem se lhes fecha. Que lhes sobra? As noites de sexta-feira e pensarem que amanhã é outro dia…
E observe-se como lhes roubámos as pensões a que, teoricamente, um dia teriam direito: a reforma Vieira da Silva manteve com poucas alterações o valor das reformas para os que estão quase a reformar-se ao mesmo tempo que estabelecia fórmulas de cálculo que darão aos jovens de hoje reformas que corresponderão, na melhor das hipóteses, a metade daquelas a que a geração mais velha ainda tem direito. Eles nem deram por isso. Afinal como poderia a “geração ‘casinha dos pais’” pensar hoje no que lhe acontecerá daqui a 30 ou 40 anos?
Esta geração nunca se revoltará, como a geração de 60, por estar “aborrecida”, ou “entediada”, com o progresso “burguês”. Esta geração também não se mobilizará porque… “talvez foder”. Mas esta geração, que foi perdendo as ilusões no Estado protector – ela sabe muito bem como está desprotegida no desemprego, por exemplo… –, habituou-se também a mudar, a testar, a arriscar e, sobretudo, a desconfiar dos “instalados”.
Esta geração talvez já tenha percebido que não terá uma vida melhor do que a dos seus pais, pelo menos na escala que eles tiveram relativamente aos seus avós. Por isso esta geração não segue discursos políticos gastos, nem se deixa encantar com retóricas repetitivas, nem acredita nos que há muito prometem o paraíso.
Por isso esta geração pode ser mobilizada para o gigantesco processo de mudança por que Portugal tem de passar – mais do que um processo de mudança, um processo de reinvenção. Portugal tem de deixar de ser uma sociedade fechada e espartilhada por interesses e capelinhas, tem de se abrir aos seus e, entre estes, aos que têm mais ambição, mais imaginação e mais vontade. E esses são os da geração “qualquer coisa” que só quer ser “alguma coisa”. Até porque parvoíce verdadeira é não mudar, e isso eles também já perceberam…
Para uns terem “direitos adquiridos” para sempre, outros ficaram sem direitos nenhuns: os mais novos, os nossos filhos.
Quando o FMI chegou pela segunda vez a Portugal, em 1983, eu tinha 26 anos. Num daqueles dias de ambiente pesado, quando havia bandeiras pretas hasteadas nos portões das fábricas da periferia de Lisboa, quando nos admirávamos com ser possível continuar a viver e a trabalhar com meses e meses de salários em atraso, almocei com um incorrigível optimista no Martinho da Arcada. Nunca mais me esqueci de uma sua observação singela: “Já reparaste como, apesar de todos os actuais problemas, a nossa geração vive melhor do que as dos nossos pais? Tenta lembrar-te de como era quando eras miúdo…”
Era verdade: a minha geração viveu e vive muito melhor do que a dos seus pais. E eles já viveram melhor do que os pais deles. Mas quando olho para a geração dos meus filhos, e dos que são mais novos do que eles, sinto, sei, que já não vai ser assim. E não vai ser assim porque nós estragámos tudo – ou ajudámos a estragar tudo. Talvez aqueles que são um bocadinho mais velhos do que eu, os verdadeiros herdeiros da “geração de 60”, os que ocuparam o grosso dos lugares do poder nas últimas três décadas, tenham um bocado mais de responsabilidade. Mas ninguém duvide que o futuro que estamos a deixar aos mais novos é muito pouco apetecível. E que o seu presente já é, em muitos aspectos, insuportável.
Começámos por lhes chamar a “geração 500 euros”, pois eram licenciados e muitos não conseguiam empregos senão no limiar do salário mínimo. Agora é ainda pior. Quase um em cada quatro pura e simplesmente não encontram emprego (mais de 30 por cento se tiverem um curso superior). Dos que encontram, muitos estão em “call centers”, em caixas de supermercados, ao volante de táxis, até com uma esfregona e um balde nas mãos apesar de terem andado pela Universidade e terem um “canudo”. Pagam-lhes contra recibos verdes e, agora, o Estado ainda lhes vai aplicar uma taxa maior sobre esse muito pouco que recebem. Vão ficando por casa dos pais, adiando vidas, saltitando por aqui e por ali com medo de compromissos.
Há 30 anos, quando Rui Veloso fixou um estereótipo da minha geração em “A rapariguinha do Shopping”, a letra do Carlos Tê glosava a vaidade de gente humilde em ascensão social, fosse lá isso o que fosse: “Bem vestida e petulante/Desce pela escada rolante/Com uma revista de bordados/Com um olhar rutilante/E os sovacos perfumados/…/Nos lábios um bom batom/Sempre muito bem penteada/Cheia de rimel e crayon…”
Hoje, quando os Deolinda entusiasmam os Coliseus de Lisboa e do Porto, o registo não podia ser mais diferente: “Sou da geração sem remuneração/E não me incomoda esta condição/Que parva que eu sou/Porque isto está mal e vai continuar/Já é uma sorte eu poder estagiar…” Exacto: “Já é uma sorte eu poder estagiar”, ou mesmo trabalhar só pelo subsídio de refeição, ou tentar a bolsa para o pós-doc depois de ter tido bolsa para o doutoramento e para o mestrado e nenhuma hipótese de emprego. Sim, “Que mundo tão parvo/Onde para ser escravo é preciso estudar…”
É a geração espoliada. A geração que espoliámos.
Sem pieguices, sejamos honestos: na loucura revolucionária do pós-25 de Abril, primeiro, depois na euforia da adesão à CEE, por fim na corrida suicida ao consumo desencadeada pela adesão à moeda única e pelos juros baixos, desbaratámos numa geração o rendimento de duas gerações. Talvez mais. As nossas dívidas, a pública e a privada, já correspondem a três vezes o produto nacional – e não vamos ser nós a pagá-las, vamos deixá-las de herança.
Quisemos tudo: bons salários, sempre a subir, e segurança no emprego; casa própria e casa de férias; um automóvel para todos os membros da família; o telemóvel e o plasma; menos horas de trabalho e a reforma o mais cedo possível. Pensámos que tudo isso era possível e, quando nos avisaram que não era, fizemos como as lapas numa rocha batida pelas ondas: enquistámos nas posições que tínhamos alcançado. Começámos a falar de “direitos adquiridos”. Exigimos cada vez mais o impossível sem muita disposição para darmos qualquer contrapartida. Eram as “conquistas de Abril”.
Veja-se agora o país que deixamos aos mais novos. Se quiserem casa, têm de comprá-la, pois passaram-se décadas sem sermos capazes de ter uma lei das rendas decente: continuamos com os centros das cidades cheios de velhos e atiramos os mais novos para as periferias. Se quiserem emprego, mesmo quando são mais capazes, mesmo quando têm muito mais formação, ficam à porta porque há demasiada gente instalada em empregos que tomaram para a vida. Andaram pelas Universidades mas sabem que, nelas, os quadros estão praticamente fechados. Quando têm oportunidade num instituto de investigação, dão logo nas vistas, mas são poucas as oportunidades para tanta procura. Pensaram ser professores mas foram traídos pela dinâmica demográfica e pela diminuição do número de alunos. Sonharam com um carreira na advocacia, mas agora até a sua Ordem se lhes fecha. Que lhes sobra? As noites de sexta-feira e pensarem que amanhã é outro dia…
E observe-se como lhes roubámos as pensões a que, teoricamente, um dia teriam direito: a reforma Vieira da Silva manteve com poucas alterações o valor das reformas para os que estão quase a reformar-se ao mesmo tempo que estabelecia fórmulas de cálculo que darão aos jovens de hoje reformas que corresponderão, na melhor das hipóteses, a metade daquelas a que a geração mais velha ainda tem direito. Eles nem deram por isso. Afinal como poderia a “geração ‘casinha dos pais’” pensar hoje no que lhe acontecerá daqui a 30 ou 40 anos?
Esta geração nunca se revoltará, como a geração de 60, por estar “aborrecida”, ou “entediada”, com o progresso “burguês”. Esta geração também não se mobilizará porque… “talvez foder”. Mas esta geração, que foi perdendo as ilusões no Estado protector – ela sabe muito bem como está desprotegida no desemprego, por exemplo… –, habituou-se também a mudar, a testar, a arriscar e, sobretudo, a desconfiar dos “instalados”.
Esta geração talvez já tenha percebido que não terá uma vida melhor do que a dos seus pais, pelo menos na escala que eles tiveram relativamente aos seus avós. Por isso esta geração não segue discursos políticos gastos, nem se deixa encantar com retóricas repetitivas, nem acredita nos que há muito prometem o paraíso.
Por isso esta geração pode ser mobilizada para o gigantesco processo de mudança por que Portugal tem de passar – mais do que um processo de mudança, um processo de reinvenção. Portugal tem de deixar de ser uma sociedade fechada e espartilhada por interesses e capelinhas, tem de se abrir aos seus e, entre estes, aos que têm mais ambição, mais imaginação e mais vontade. E esses são os da geração “qualquer coisa” que só quer ser “alguma coisa”. Até porque parvoíce verdadeira é não mudar, e isso eles também já perceberam…
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
MANIFESTO
comentário enviado à revista Visão, via email, 18.Jan.2011
Sobre o artigo “GERAÇÃO NEM-NEM”, Revista Visão, 13 de Janeiro 2011
Esta semana deparei-me com a vossa reportagem da designada Geração "Nem-Nem" ou "Geração Zero" que, a meu ver, tem imprecisões e falta de conhecimento que abrange muitas áreas, nomeadamente as artísticas, da qual faço parte. Sou arquitecta (estagiária, na recta final) e, se por um lado, tenho de concordar com diversos factos que são abordados ao longo da reportagem, tenho, por outro lado, que discordar com outros. Segue-se o exemplo de, quando uma Socióloga, de seu nome, Cláudia Ferreira, refere comentários do tipo "O meu menino é doutor, não vai ganhar 500 euros num call-center, é uma vergonha.". Vergonha é generalizarem-se ideias deste género. A verdade é que, quem me dera, que, como arquitecta, pudéssemos ganhar 500 euros, ou sequer haver oportunidades na minha classe para tal. Mais acrescento que, não entrando num tom pejorativo neste texto, todas as pessoas são necessárias à sociedade e cabe a cada uma delas fazer decisões relativamente à sua vida profissional.
Ora, se uns optam por iniciar a sua vida profissional findo o 9º ou o 12º ano (ou quando for), há outros que investem anos da sua vida (e não só) para se qualificarem superiormente para poderem garantir uma estabilidade futura. A verdade é que isto já não acontece, e foi nesta falácia que todo esse investimento foi feito e, em esperança, assumido. Estabilidade é conceito que já não existe no enquadramento social de hoje. E falo da realidade que me é mais próxima, que, tendo formação superior, investido quase dois anos da minha vida na Holanda e em Inglaterra (em formação e estágio), chegar a Portugal e aperceber-me de casos hilariantes que não dignificam nem a classe nem o valor de cada um é, no mínimo, desolador. Exemplo dessa realidade é existir uma maior remuneração para um emprego part-time (4 horas) num escritório, duma técnica sem formação superior, e, nesse mesmo escritório, um arquitecto nem o ordenado mínimo ganhar. Outro caso, ainda mais gritante, é o anúncio que um atelier publicou no site do IEFP em que pediam todas as qualificações e mais algumas a um arquitecto com, salvo erro, 3 anos de experiência e, adivinhem, a remuneração era um tesouro: 483 euros. Onde chegámos? Não me venham dizer que é uma vergonha NÃO serem aceites estas verdadeiras pérolas laborais! Citando um documento – finalmente! – escrito e divulgado – Declaração Maldita – redigido por um grupo de arquitectos, conscientes e revoltados com a actual realidade, “Por outro lado, o desemprego e o trabalho precário generalizaram-se, reflectindo uma realidade na qual uma parte muito significativa dos arquitectos vive, actualmente, de forma instável, com rendimentos inferiores e menos direitos sociais que um trabalhador manual não especializado.”. E chamo a atenção de todos os quantos tiverem a paciência e a sagacidade de ler este texto: aceitar este tipo de trabalho, com esta remuneração, é, em primeiríssima instância, um desrespeito para a classe. Porque se há um que aceita, existirão mais que aceitam de certeza. Enquanto não houver uma tomada, oficial, de posição face a esta degradação, não há, lamentavelmente, muito a fazer.
Situações como estas existem numa escala que não chega ao público, e este continua a pensar que "Ser Arquitecto" é sinónimo de se ser rico. Há um pedantismo – iminentemente social e intelectual - (presente também no núcleo restrito que é a "imagem de marca" da classe, sem marcar coisa alguma para os seus pares) que é assustador, tremendamente assustador e redutor. Prestar serviços de arquitectura ainda está conotado com um elitismo ridículo e infundado. E, aliado a este facto, muitos outros consubstanciam a precariedade da profissão para a grande maioria. Sublinho, precariedade para a grande maioria. Citando novamente a Declaração Maldita – “realidade laboral em arquitectura define-se, de uma forma genérica, pela dificuldade no acesso à profissão, pela falta de autonomia criativa e disciplinar, pelo aumento do desemprego, pelos baixos salários, e pela precariedade e instabilidade permanentes no trabalho.”. Neste parágrafo é notória a condição de se ser arquitecto em Portugal. Comentários como “(…) o comodismo e o culto da lamentação existem nos recém-licenciados e são, na maioria, alimentados pelos pais.” Não deveriam, uma vez mais, ser generalizados porque, admito, que há muita gente que nasceu em berço de ouro e da vida não sabe absolutamente nada; no entanto há os outros que por saberem onde querem chegar esforçam-se, investem, sacrificam-se e, ao permanecerem neste país, quase tudo lhes é negado, profissionalmente falando. Citando uma vez mais a referida Declaração, “A evolução do mercado de arquitectura, nas últimas décadas, tem vindo a sedimentar-se em torno dos gabinetes de maior dimensão, que associam à ideia de grande empresa o conceito de arquitecto-estrela, cujo trabalho é publicitado nas publicações da especialidade e nos meios académicos. Esta imagem de arquitecto-estrela, que deriva quer do ideal romântico do artista-criador, quer da relação mestre-aprendiz típica das oficinas medievais, prática continuada até ao recente aumento exponencial do número de arquitectos em Portugal, consolidou-se numa ideologia que justifica a desregulação do trabalho na empresa de arquitectura contemporânea. Assim, atrás da ideia de colaboração entre arquitectos esconde-se a realidade actual da crescente proletarização do trabalho em arquitectura.”
Não sendo esta realidade a suficiente, para oficializarmos o processo de exercício da profissão em Território Nacional, precisamos (condição essencial) de estar registados na Ordem dos Arquitectos. Ora este processo, caros leitores, desde a fase inicial até ao final do processo de estágio, não custa menos de 300 euros, aos que lhe somam cerca de 200 euros anuais. Pergunto – pergunta inocente – como é que um arquitecto em início de carreira, com a inevitabilidade de estar numa situação laboral precária (vulgo recibos verdes) e, como esta, se agravou nas últimas decisões governamentais, poderá comportar estes valores e poder assegurar a sua independência? Muito mais havia para ser discutido, mas julgo ter ficado aqui expresso uma pequena parte do desconhecido universo que envolve uma das profissões, avaliadas pelos profissionais que credibilizam a reportagem como sendo uma das que não tem saídas profissionais.
Para terminar, não querendo alongar-me mais, apelava à leitura da referida Declaração, que pode ser acedida através do endereço http://malditaarquitectura.blogspot.com/ . Reflictam, e questionem se somos nós que somos os acomodados às lamentações, ou se são vontades alheias que não nos permitem estabelecer na profissão. Da designação da geração, zero, não poderiam ter acertado melhor: é, pois, a quantia que nos sobra ao final dum mês, depois de IVA, Segurança Social, quotas da ordem, passes, alimentação, etc, etc, etc, tudo isto em condição precária de recibos verdes.
Resta-me deixar-vos os melhores cumprimentos, esperando que parte deste texto possa ser publicado na próxima edição,
Ana Pacheco
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
confrontação... partir, de novo.
não é meu o país que nega a oportunidade e a confiança. não é meu o país que se veste, pesadamente, dum negro invísivel. não é meu o país em que os rostos estão cravados de conformismo. não é meu, de todo, o país onde se nos negam os sonhos.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Beyond Words II
Londres,
7de Janeiro, 2011
Ao sétimo dia do ano – e rejeito qualquer sentido esotérico ou religioso associado - as memórias dum outro que mal terminou afluem a cada instante do que ainda mal começou. Os momentos ímpares num ano par. Outros e igualmente intensos momentos ímpares aguardam-se num ano ímpar.
Não são cunhadas de melancolia ou qualquer outro sentimento que se lhe assemelhe. Não. A verdade, e em igualdade a outro momento de partida da minha vida, também este é marcado por fragmentos de tempo, lugar e espaço que se elevaram por terem sido vividos de forma plena e partilhados com pessoas extraordinárias.
Não são de bajulação gratuita e insípida estas palavras. Antes de exaltação. Por tudo e pelo nada que permitiram as chegadas e os encontros. Nunca fugazes. Nunca efémeros. E que o tivessem sido numa dimensão temporal, nunca o foram em essência. Em partilhas e cumplicidades. E tudo o que isso compreende. E compreende tanto.
Também não são de despedida estas palavras. Porque não me será possível dizer um “adeus” às pessoas que marcaram estes meses. Antes será um até já indefinido, mas com a certeza do reencontro. Amanhã ou daqui a meses. Mas será. Dizia noutro dia que a intensidade de determinados momentos é intransponível para qualquer tipo de palavras. It’s beyond words. E as pessoas que entraram nesta realidade intensa e irrepetível dispensaram a conquista de algo. Apenas estiveram, permaneceram. Permanecem e estão. Permanecemos e estamos. E tudo o que isto envolve – em primeira instância, as pessoas – é absolutamente singular. Ímpar.
O nosso universo, em abstracto, é constituído de transformações, já afirmava Lavoisier. Em que nada perco, mas também nada ganho, Mas transformo-me e transformo toda e qualquer variável da minha vida nesta circunstância. No balanço final, contrariando, acredito que ganho sempre. Existem as transformações, em que somos confrontados com questões que ora nos causam muitas vezes o pânico silenciado ora nos invadem, interiormente, de forma a nos testarem em aproximações de instintos de sobrevivência. Violento. Dispenso as afirmações do contrário.
As pessoas. Sempre permanecem poucas que decidem a cada dia ficar, duma forma mais ou menos subliminar. Decidem, traz-me o conforto. Prefiro poucas. Poucas, será relativo. Julgo. Antes prefiro escrever, as que querem estar. E as que eu sinto que estão. Correspondência, portanto. E não estando todas na mesma dimensão, estão, independentemente das vicissitudes que possam, física e espacialmente, separar. Não interessa. Não me interessa isso. A sério. Incluíram-se algumas nestes tempos. Ausentaram-se outras. As que chegaram. Essas. As que permitiram que cada dia neste mar agressivo de gente fosse cunhado com o conforto e aconchego que sempre amparam as quedas subjacentes às grandes decisões. Dispenso as nomeações, porque não faz sentido fazê-lo. E também dispenso o lugar comum de “as pessoas sabem quem são”. Porque para além do saberem, de facto, faço questão que o saibam, duma maneira mais ou menos subliminar. Não há teoremas ou equações para isto. Não há. A verdade é que, uma vez mais, confirmou-se o que já anteriormente defendi: inexistência de proporcionalidade directa entre tempo e solidez de sentimentos. E nisto vai uma densidade extrema e incrível.
Gosto de todos e de cada um dos fragmentos de tempo partilhados com cada uma das pessoas que habitou estes meses. Gosto de cada coisa que me ensinaram. Gosto de cada silêncio que tivemos. Gosto de cada cumplicidade estabelecida. Gosto de cada piada que fizemos nossa. Gosto de cada regresso a casa. Gosto de cada música que conheci. Gosto do puntting que fizemos, quais colegiais. Gosto de cada textura de óleo em tela que vimos. Gosto de cada tom de vermelho em tijolos erguidos no auge e epicentro dessa revolução. Gosto de cada abraço sentido. Gosto de cada deambular nestas ruas. Gosto do chá tomado no Mr. Scruff. Gosto de cada jantar partilhado. Gosto do elitismo académico de Oxford. Gosto de cada gargalhada insana. Gosto de cada filme na atmosfera do coronet. Gosto de presença dos que estão distantes. Gosto do meu bairro. E da minha Hereford Road. Gosto de todas as vezes que fui e regressei a Cambridge. Gosto do regresso à infância no Hamleys. Gosto da elegância da Regent. Gosto dos lugares descobertos em acasos. Gosto da industrialidade de Manchester. Gosto da ruralidade das quintas. Gosto da Guinness que tomámos em Dublin. Gosto da despretensão trendy do East Side. Gosto de me perder no Borough Market. Gosto do excesso de Camden. Gosto de cada conversa que tive. Gosto de cada gesto improvável. Gosto, sem ensaios, das pessoas que permitiram este móbil interminável de recordações.
Gosto, presente. Porque sê-lo-ão sempre em presente. Em qualquer tempo. Aqui. Vocês!
Obrigada!
Até já.
A
7de Janeiro, 2011
Ao sétimo dia do ano – e rejeito qualquer sentido esotérico ou religioso associado - as memórias dum outro que mal terminou afluem a cada instante do que ainda mal começou. Os momentos ímpares num ano par. Outros e igualmente intensos momentos ímpares aguardam-se num ano ímpar.
Não são cunhadas de melancolia ou qualquer outro sentimento que se lhe assemelhe. Não. A verdade, e em igualdade a outro momento de partida da minha vida, também este é marcado por fragmentos de tempo, lugar e espaço que se elevaram por terem sido vividos de forma plena e partilhados com pessoas extraordinárias.
Não são de bajulação gratuita e insípida estas palavras. Antes de exaltação. Por tudo e pelo nada que permitiram as chegadas e os encontros. Nunca fugazes. Nunca efémeros. E que o tivessem sido numa dimensão temporal, nunca o foram em essência. Em partilhas e cumplicidades. E tudo o que isso compreende. E compreende tanto.
Também não são de despedida estas palavras. Porque não me será possível dizer um “adeus” às pessoas que marcaram estes meses. Antes será um até já indefinido, mas com a certeza do reencontro. Amanhã ou daqui a meses. Mas será. Dizia noutro dia que a intensidade de determinados momentos é intransponível para qualquer tipo de palavras. It’s beyond words. E as pessoas que entraram nesta realidade intensa e irrepetível dispensaram a conquista de algo. Apenas estiveram, permaneceram. Permanecem e estão. Permanecemos e estamos. E tudo o que isto envolve – em primeira instância, as pessoas – é absolutamente singular. Ímpar.
O nosso universo, em abstracto, é constituído de transformações, já afirmava Lavoisier. Em que nada perco, mas também nada ganho, Mas transformo-me e transformo toda e qualquer variável da minha vida nesta circunstância. No balanço final, contrariando, acredito que ganho sempre. Existem as transformações, em que somos confrontados com questões que ora nos causam muitas vezes o pânico silenciado ora nos invadem, interiormente, de forma a nos testarem em aproximações de instintos de sobrevivência. Violento. Dispenso as afirmações do contrário.
As pessoas. Sempre permanecem poucas que decidem a cada dia ficar, duma forma mais ou menos subliminar. Decidem, traz-me o conforto. Prefiro poucas. Poucas, será relativo. Julgo. Antes prefiro escrever, as que querem estar. E as que eu sinto que estão. Correspondência, portanto. E não estando todas na mesma dimensão, estão, independentemente das vicissitudes que possam, física e espacialmente, separar. Não interessa. Não me interessa isso. A sério. Incluíram-se algumas nestes tempos. Ausentaram-se outras. As que chegaram. Essas. As que permitiram que cada dia neste mar agressivo de gente fosse cunhado com o conforto e aconchego que sempre amparam as quedas subjacentes às grandes decisões. Dispenso as nomeações, porque não faz sentido fazê-lo. E também dispenso o lugar comum de “as pessoas sabem quem são”. Porque para além do saberem, de facto, faço questão que o saibam, duma maneira mais ou menos subliminar. Não há teoremas ou equações para isto. Não há. A verdade é que, uma vez mais, confirmou-se o que já anteriormente defendi: inexistência de proporcionalidade directa entre tempo e solidez de sentimentos. E nisto vai uma densidade extrema e incrível.
Gosto de todos e de cada um dos fragmentos de tempo partilhados com cada uma das pessoas que habitou estes meses. Gosto de cada coisa que me ensinaram. Gosto de cada silêncio que tivemos. Gosto de cada cumplicidade estabelecida. Gosto de cada piada que fizemos nossa. Gosto de cada regresso a casa. Gosto de cada música que conheci. Gosto do puntting que fizemos, quais colegiais. Gosto de cada textura de óleo em tela que vimos. Gosto de cada tom de vermelho em tijolos erguidos no auge e epicentro dessa revolução. Gosto de cada abraço sentido. Gosto de cada deambular nestas ruas. Gosto do chá tomado no Mr. Scruff. Gosto de cada jantar partilhado. Gosto do elitismo académico de Oxford. Gosto de cada gargalhada insana. Gosto de cada filme na atmosfera do coronet. Gosto de presença dos que estão distantes. Gosto do meu bairro. E da minha Hereford Road. Gosto de todas as vezes que fui e regressei a Cambridge. Gosto do regresso à infância no Hamleys. Gosto da elegância da Regent. Gosto dos lugares descobertos em acasos. Gosto da industrialidade de Manchester. Gosto da ruralidade das quintas. Gosto da Guinness que tomámos em Dublin. Gosto da despretensão trendy do East Side. Gosto de me perder no Borough Market. Gosto do excesso de Camden. Gosto de cada conversa que tive. Gosto de cada gesto improvável. Gosto, sem ensaios, das pessoas que permitiram este móbil interminável de recordações.
Gosto, presente. Porque sê-lo-ão sempre em presente. Em qualquer tempo. Aqui. Vocês!
Obrigada!
Até já.
A
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
beyond words
major decisions ahead.
major memories now.
major people ever.
major moments then.
major everlasting feelings.
major memories now.
major people ever.
major moments then.
major everlasting feelings.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
voo cancelado - voo descancelado - amanha acontecera'
... e ate' dei uma entrevista pelo telefone.
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1740398&seccao=Europa
http://dn.sapo.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1740398&seccao=Europa
Restrições nos aeroportos mantêm-se. TAP reconhece dificuldades em trazer todos os passageiros até sexta.
Ana Pacheco tinha o regresso de Londres para Lisboa marcado para amanhã, para vir passar o Natal a casa. Já sabe que o voo foi cancelado, só não sabe quando vai ter outro. "É uma incógnita. Estamos numa lista de espera mas à nossa frente estão centenas de pessoas. Já me estou a mentalizar que vou passar o Natal cá", conta a arquitecta de 27 anos.
Como ela estão "umas centenas de portugueses", à espera que a TAP arranje uma solução para os trazer até casa, reconhece o porta-voz da empresa. E António Monteiro admite que será "muito difícil trazer todos a tempo do Natal".
De Heathrow continuam a sair apenas um terço dos voos previstos e as restrições operacionais foram prolongadas até, pelo menos, amanhã de manhã - segundo o Guardian, responsáveis do aeroporto já admitiram que as dificuldades vão continuar até depois do Natal. O que levou a TAP a cancelar seis voos ontem e mais seis hoje (metade para lá e metade para Lisboa e Porto), enquanto a British Airways anulou dois voos ontem. Em Gatwick, o outro aeroporto usado pela TAP, a companhia não tem autorização para realizar voos adicionais. Mesmo que as restrições sejam levantadas, António Monteiro reconhece que só com voos extra será possível "escoar" os passageiros que se acumularam nos últimos dias e que será "muito difícil trazer todas as pessoas a tempo do Natal".
Ana Pacheco tem a mesma impressão. "Tenho dois amigos que ficaram sem voo no sábado passado e só lhes arranjavam viagem no próprio dia de Natal... à noite. Nem quero imaginar qual é a alternativa que me vão dar a mim", diz, acrescentando que já fica contente se lhe derem a possibilidade de viajar para Faro ou Porto. Já escolher outra rota - voltar fazendo escala em Amsterdão ou Madrid, por exemplo - implica gastar muito dinheiro: "A TAP não assume esses custos e os bilhetes estão a preços proibitivos."
Os pais de Miguel Vidal estão do lado de cá: tinham planeado ir passar o Natal e o Ano Novo a Londres, com os dois filhos que vivem na cidade. Ontem, foram avisados que o seu voo foi cancelado e estavam "à espera do contacto da TAP para saber o que fazer", conta.
A transportadora portuguesa não sabe dizer, no entanto, quantas pessoas estão nesta situação. "Não temos maneira de contactar todas as pessoas. Por isso, não sabemos quantas já voaram para outras cidades ou saíram de Londres de comboio ou por mar", diz António Monteiro.
Foi isso mesmo que fez um grupo de 30 trabalhadores, de uma central de energia britânica. "Apanhámos táxis do aeroporto para o Canal da Mancha e estamos à espera de entrar para o barco", contou, por telefone, Manuel Pereira à agência Lusa. Ao fim de duas noites em Heathrow, o grupo perdeu a paciência. "Só nos davam hipóteses no dia 28", explica Manuel. Depois de chegarem a França, os portugueses apanham um comboio, um autocarro ou, em último caso, alugar uma carrinha.
Outro grupo de portugueses, trabalhadores de uma fábrica de processamento de carnes, também não consegue embarcar desde domingo. Têm "talvez" lugar hoje, mas ainda "não é certo", admitiu Marco Vieira. Os problemas causados pelo mau tempo no Reino Unido afectam também o comboio Eurostar, que liga Londres a Paris. Devido às restrições de velocidade há atrasos e até cancelamentos.
O mau tempo causou ainda prejuízos de milhões às companhias aéreas: a única que apresentou uma estimativa, a Air France, aponta para 35 milhões de euros. A TAP já cancelou mais de 60 voos desde sábado, mas não avança números. Já para Ana Pacheco e para os outros, a neve que está a causar o caos significa um Natal branco... mas se calhar longe de casa.
sábado, 18 de dezembro de 2010
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