quarta-feira, 20 de outubro de 2010

casa




dia gelado, este. e no antípoda da sensação, o sol, em pleno. e as cores das ruas, e dos edifícios, e das pessoas e do céu, vivas. nítidas. há cores que há nestes dias, que não há em mais nenhum dia. dias de outono. desci as escadas, como todos os dias faço, rumo ao atelier. abro a porta pesada do número 42 e delicio-me - hoje - com  luz que acordava a cidade. e as cores também. o frio entrava por todos os pedaços de roupa mal amanhada que tinha vestido em jeito de múmia. mesmo assim, entrava. não me importei. a imensa cúpula azul - azul, mesmo - que encerrava londres era portentosa demais para a ignorar. não ignorei. vi-a, olhei-a, senti-a. o vapor emanava-se-me do corpo num fumo sustido e desaparecido da atmosfera. estava frio. mesmo. e os pensamentos foram comigo rua acima, "se em outubro já está assim, não quero imaginar em novembro...". imagino, porque estará pior. já se nota a invernidade dos dias. já noite a bater as seis a tarde. e o frio não se ausenta. os faróis acesos em arrastares quase silenciosos. a mesma ordenada confusão. as compras. e os cafés para enganar o frio. o mesmo tapete húmido de cores quentes à entrada, de novo no 42. e a casa, das janelas largas para a rua, no fim. conforto.