sábado, 2 de abril de 2011

268

268. eram sacos de compras aqueles que me carregaram para dentro desse tosco encarnado. vocês. sentados. lado a lado. ele de olhos em brilho. tu de olhos baços. de tão baços turvaram por instantes a redoma que, aparentemente, te afastava dele. do resto do mundo. ele abraçou-te, beijou-te. e nem isso te demoveu. tu insípida e ausente. ele transbordava e presenciava o amor, o dele. só dele. disse-te algo ao ouvido que, deduzi, fosse uma declaração apaixonada. não estremeceste. ou sequer retribuiste. entraram numa mesma estação, deduzo, e houve uma outra que vos separou. ele saiu, carregandos uns cilindros que continham tinta (com que te pintaria, numa parede qualquer - especial; imaginei eu, qual acto de amor em tempos de cólera!), olhou incontáveis vezes, lá fora, fez aquelas figuras rídiculas que qualquer um faz quando a paixão e amor batem à porta. mandou-te beijos numa mão que te tinha acarinhado antes. o encarnado avançou, em compasso lento. e ele lado a lado. tu dentro, ele fora. da redoma, do encarnado. fez-te adeus e sorriu-te. tu timidamente cedeste por uma vez. ele avançou e ultrapassou. e ficou à tua espera, mais adiante. olhaste para o lado contrário, evitando-o. e, senti eu, o olhar mais perdido e desconsolado dos últimos tempos. quase pude ver e tocar as palavras dele - "olha para mim!e sente-me." . mas tu evitaste-o. ele ama-te. tu não.

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