terça-feira, 21 de julho de 2009

uma das maiores vergonhas que o Homem escreveu na história

nunca ninguém poderá determinar com um rigor de horror quantos dantescamente pereceram em lugares como bergen-belsen, auschwitz-birkenau, treblinka, sobibor ou belzec... nunca ninguém poderá imaginar quantos mais sucumbiram a uma política praticada e liderada no seu extremo pelo exemplo antitético de suposta raça ariana... nunca ninguém poderá imaginar, e a história esquecer-se-á, paulatinamente, da revolta e angústia e horror e vazio e dor daqueles que, em azar ou sorte, ficaram para os contar... nunca ninguém poderá compreender, por mais pianistas, listas ou pijamas que sejam realizados, a realidade dantesca que esvicerou um equilibrio... nunca ninguém poderá adivinhar o vazio do regresso daqueles que foram obrigados a deixar, jazidos em terras de sangue, quem lhes dava as certezas dos sentimentos... nunca ninguém poderá escrever e transcrever as emoções que não cabem na mestria das mais sábias palavras nem nas imagens mais duramente captadas... apenas subsistem constantes aproximações, ainda tão longe, da realidade que existiu e alguns querem negar.

aproximamo-nos em lugares como o abrigo de anne frank, que exalta, numa dureza que corroi, o inferno na terra. procuram-se as cores duma realidade acromática dum diário escrito e vivido num lugar onde nem os sonhos podem caber... num lugar ali junto ao canal que em fachos de revolta e interrogações trazia a normalidade a uma anormalidade de existência... Dói. Mesmo num tempo e existências tão longe destes. Mas dói. E dói sempre mesmo que vejamos incontáveis imagens de culpados categoricamente absolvidos em cinica e desumana inocência... dói saber que existir está diametralmente oposto à realidade de que temos apenas uma tremida noção...

nunca niguém poderá explicar ou compreender as razões que moveram milhares que silenciaram milhões... Arbeit macht frei [o trabalho liberta] recebeu todos aqueles que foram e não voltaram de auschwitz... e daqueles que voltaram... para cunhar e gritar, em legitimidade, esta vergonha da história.

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1 comentário:

T.Poeta disse...

Há coisas que não mudam, Ana.

É por isso mesmo, talvez, que as memórias as guardam, em carne viva - sempre.

Foi bom reler-te, e por isso - um orgulhar-me da causa de todas as coisas. Desde o escrever ao pensar.

Um beijo, espero que estejas bem.

T.Poeta