quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

madragam

madragam.
estás esquecida.
ultimamente nem tanto, justiça seja feita. mas quem te vê de longe, numa superficialidade assustada, acredita que sim, que estás de facto esquecida. eu gosto de ti. muito, para ser sincera. e cada dia mais. não é uma paixão repentina. porque também eu um dia acreditei, assustada, que estavas esquecida. sinto(-te) na aurora do dia, quando a cidade acorda. e no crepúsculo, também. e sinto e olho os rostos duros e plásticos que habitam em ti. e também gosto desse contraste. não só dos rostos. mas também dos lugares que vão vivendo em ti. os que nasceram de ti e os que adoptaste entretanto. educa-os, e não permitas que se percam por aí.

aurora. que te apaga a noite, para reescrevê-la horas mais tarde. sim. os primeiros odores adormecidos numa lânguida escuridão, exaltam-se com a bruma que se desprende de ti. que desprendes, porque só te esconde e te ensombra. regressas, depois duma aparente anabiose. pretensa, verdade. tens razão. ausenta-se saber que não esmoreces de noite. brilhas e não brilhas - e para mim brilhas sempre. adensam-se em ti lugares - lugares, sim - que te fazem permanecer com fulgor desconhecido. lugares das gentes. dos rostos duros e plásticos. e todos os outros que ficam neste intervalo. deixas passear a vaidade e a penúria. e ainda assim povoas de logro todos os quantos que te desconhecem, e viajam em e por esperanças ou memórias nobiliárquicas.  e não te incomodas com isso. aliás, és tu, assim. ouves as conversas que existem em ti - escutas cada palavra que ecoa em sons vernáculos em cada rua tua. e não te importas com as horas estendidas no avançar da noite. contas e fazes contar as his(es)tórias. não te apatece a vaidade. a tua. em ti. nunca te ofereceste dessa maneira. e deixas que a descoberta - a tua - não assuste os que ainda se lembram de ti.

vivo-te diariamente. sinto-te crescentemente. lembro-te, porque nunca me esqueço. gosto de ti. tanto.

madragoa. MADRAGOA|

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