quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

o porteiro

desconheço as horas que passa aguardando, elegantemente, por aqueles que pernoitam naquele lugar. desconheço os números de automóveis que vê passar, lá fora, na rua de som texturado dum conzento profundo. desconheço as origens da sua cortesia. desconheço as raízes do orgulho em dizer que pessoas importantes vão passando pelas paredes do convento. desconheço quantas folhas caídas terá colhido no lugar duma lisboa que respirou, outrora, garrett. desconheço porque terá escolhido o número 32, dessa rua onde o velho verde das madeiras das janelas, inchadas por noites longas, e dias ainda mais longos, deu lugar a outras matérias modernas. desconheço porque razão me rasga um largo sorriso sempre que trespasso o portão bruto de ferro, que me desliza, por vezes, do cuidado, ressoando o estrondo naquela entrada. desconheço porque me detém sempre em conversas (algumas de circunstância). desconheço os motivos que o levavam a perguntar, todas as vezes que irrompo para lá dos muros conventuais com a carga das ferramentas do ofício, se desejo que transporte todo o peso acessório escadas acima até ao meu destino.

desconheço. desconhecia.

hoje fiz-me deter na conversa, regressada dum almoço.

hoje sei-lhe as suas feições na luz rasante da tarde.

hoje quis saber o seu nome. senhor josé luís. o porteiro.

1 comentário:

Bruno Leal disse...

Que post deliciosos de se ler e de se sentir Ana... :)