quinta-feira, 18 de março de 2010

D. Roberta e Tobias

[ana pacheco ©]

9.43h. 18.mar.10. lisboa.

a rua subia íngreme. das trinas. sem cansaço e na velada composição matinal. pequenos laivos de ouro ofuscavam-na, no seu crecendo, ainda assim, escura sub os pés. demora-se a luz, na esquina, e aguarda-se na penumbra da escassez duma outra. guarda-mor. numa fronteira dúbia e não instituída, cruzo as duas. e a porta rasgada em verde do branco que se impunha deteve-me. número 2. um tobias em perfeito equilíbrio aconchegado na luz, ainda, rasante na sua tez branca e negra. do escuro de dentro, surdamente, escutei um bom dia. assim li nos lábios cobertos pelo breu. uma D. Roberta - porque acho que tinha cara de Roberta - de quem apenas vislumbrei o cabelo branco, branco, e a força da fragilidade dum olhar moído pelo tempo. às vezes, sem perdão, auguro. Branco e negro, também lá dentro. branco e negro, também na vida.
desço pela escassez que sobra da rua. viro à esquerda, nessa rua principal que não decorei, ainda, o nome. desenha-se com os eléctricos 25 e 28, no som metálico dos freios desengonçados. ele todo, desengonçado. singular, ainda assim. e o amarelo serpenteante ainda é mais amarelo com o amarelo do sol. "sr. carlos, uma bica, se faz favor."  inunda-se de luz sem licença (com toda, se faz favor!), despretensioso, este lugar à esquina encontrado. bebo-o compassadamente. o café. e o lugar também. a cidade tem aldeias dentro. lugares onde as palavras dos passos demoram. os sorrisos não se ensaiam. mercearia, retrosarias, sapateiros. e os senhores carlos, maneis e antónios desta cidade. ou as robertas, as marias e as isabeis que me sabem o nome. ou respondem sem pergunta.

não se me dissipa do pensamento a imagem dum tobias duma senhora roberta. do branco e do negro. amanhã pergunto-lhe o nome. e do gato também.

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