domingo, 11 de abril de 2010

zeitgeist


numa conjuntura mundial, escandaliza-me que, numa economia fragilizada - como é a nossa, portuguesa - venham a público salários absolutamente astronómicos quando comparados à nossa dimensão de potência económica. Em conversa no outro dia, disseram-me que tinha a visão curta por contestar estes ordenados dos administradores de empresas público-privadas porque eles - os administradores - faziam com que houvesse milhões de lucros para o estado. Desisti da conversa. Francamente. Porque curta é esta visão. Comparativamente, estamos a falar que o António Mexia ganha MAIS que o Steve Jobs da Apple, e não me digam que a EDP (privatizada sabe-se lá como, lucro de 1092 milhões de euros) factura mais que a Apple (2,26 mil milhões de dólares lucros e receitas de 11.88 mil milhões de dólares, em 2009). Mais a mais, estamos perante uma situação que parte duma intervenção estatal e que, por si só, é sobejamente chocante. Comparo estas duas empresas que, à partida, poderão situar-se nos antípodas duma macroeconomia. No entanto, sendo a Apple uma empresa constituída pela a ambição do self made man e que tem os seus lucros com toda a sua legítimidade, já as empresas privatizadas em condições dúbias em portugal conseguem ter ordenados de administradores escandalosos com lucros incontornavelmente mais baixos que muitas grandes empresas mundiais cujos administradores recebem duma forma proporcional ao ordenado mais baixo que é aplicado na dita. E estar contra esta situação não é desencorajar ou desdenhar a ambição desses senhores. Estar contra esta situação preden-se com a evidente inconsistência face a uma contenção de custos e o esbanjamento, por outro lado, de ordenados desta dimensão. Não é tolerável. Não é, tão pouco, compreensível.  Se o António Mexia, Zeinal Bava e restantes senhores milionários têm dado créditos das suas competências enquanto administradores? Aparentemente, sim. Mas suspeito que muito do sucesso empresarial deles se deve aos grandes profissionais anónimos que integram equipas onde os salários são uma pequena fracção dos salários dos administradores. Mais, se estão à frente de empresas com capital público parcial foi porque, espero, tenham demonstrado competências para as administrarem. E, posto isto, os soberbos prémios que recebem, sob este ponto de vista, não fazem, nesta dimensão, sentido, porque apenas estão a fazer o que deles é esperado. o estímulo financeiro, ou a compensação dos objectivos propostos é, em grande medida, um incentivo ao desenvolvimento e crescimento duma empresa. mas prémios que ascendem aos 2,4 milhões de euros é, efectivamente, um exagero e uma afronta face à situação económica que hoje vivemos. Isto é ter visão. Atenção que não são referidos nem Belmiro de Azevedo nem Américo Amorim, porquê? Porque esses senhores, à semelhança do Steve Jobs e de tantos outros, fizeram o seu império. Eles próprios. E eles também trazem lucros para Portugal!

É a nossa cultura onstensiva e medíocre que Max Weber explica de forma objectiva e categórica no livro A ética protestante e o espírito do capitalismo. Sucintamente, enquanto uns vivem para realização própria (idependentemente de ganhar 1000 ou 10000 ao final do mês) outros vivem para a ostentação sem, no entanto, as competências serem efectivamente relevantes. Popularmente, uns vivem para a qualidade de vida na sua essência, enquanto outros vivem para os bmw e mercedes que vão coleccionando na propriedade de ziliões de hectares. Isto choca-me verdadeiramente, e não me enquadro minimamente com esta postura, que é a que vigora: "não interessa o que penso de mim próprio, interessa-ME o que os outros pensam sobre mim tendo por base o que tenho, e não a competência e qualidade do que faço!"
Se compararmos o universo europeu, temos dos salários mais escandalosamente altos a serem pagos a administradores de empresas público privadas e de instituições estatais. Veja-se o caso do vergonhoso Victor Constâncio de saída da governação do BP, com cerca d 250.000 mensais. Competência? Não lhe vi nenhuma. Pelo contrário, encobriu de forma calamitosa a crise toda que envolveu várias instituições bancárias. Rebuçado? Vai para o BCE, na vice-presidência. Astrid Lulling afirmou mesmo que a votação de Constâncio para o BCE era como "dar barras de dinamite a um pirómano". Não me convençam que este senhor fez um trabalho de relevância para auferir o que auferia e sair do panorama português pela porta grande, em direcção ao BCE. o que não vale ter amigos influentes. E menciono dois exemplos de duas empresas de carácter público-privado e um cargo público como poderia mencionar outros mais (CMVM, CTT, REN, GALP, TAP, etc...). Eu pergunto, sem minorar as nossas capacidades,  num país que oprime como se não houvesse amanhã empresas que dão créditos em todas as partes do mundo das suas competências e qualidade, se é uma realidade congruente a dos salários astronomicamente altos e as empresas que vão fechando sem capital porque não há investimento do estado? A ler artigo "gestores com salários de milhões" na revista Sàbado.

Somos dos melhores fabricantes de calçado do MUNDO; temos o melhor azeite do MUNDO; temos o melhor vinhos tinto do MUNDO; temos empresas de vanguarda tecnológica - YDREAMS; temos tantos investigadores bolseiros que fazem um trabalho incrível e que não têm apoio de relvância pelo estado; temos tanto e estamos a deixar fugir tudo. nem só de electricidade e telefones e fibra óptica vive este país. e por acreditarem nisso, as pequenas empresas vão-se extinguindo e com elas a altíssima qualidade que temos. Corroi. e corroi uma qualquer economia que vive alienada do bom que se faz. e lamento que existam tantas pessoas que concordem com os salários milionários que se pratiquem. mas, e terminando, em países que integram as reuniões do G8  e G20, não consta Portugal. e nesses países economicamente consistentes, não existem salários astronómicos como aqueles que se praticam aqui. curioso? elementar: Max Weber e A ética protestante e o espírito capitalista e perceberão a grande diferença que nos separa económica e socialmente das grandes potências. e perceber isto é ter visão ampla e não circunscrita a esta realidade frágil e medíocre em que a classe política e afins nos fazem envolver. lamentável.

é tudo uma questão de expandir a sagacidade crítica fora deste rectãngulo e saber e conhecer o que é aplicável nas grandes potências económicas e com a justiça económica devida. e aí percebemos quão rídiculos são estes ordenados. de administradores de empresas públicas e público-privadas.

tenho escrito.


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