quinta-feira, 1 de abril de 2010

da (absurda) greve dos enfermeiros


antes de mais não quero de todo deixar dúvidas sobre o respeito que tenho pelos profissionais de enfermagem. no entanto, e considerando o panorama nacional, em diversos níveis, parece-me no mínimo rídicula a principal razão que moveu esta classe para uma greve de três dias: um salário mensal de 1200 euros (que auferem advogados e outros licenciados a trabalhar num hospital) face aos 1020 que actualmente ganham. Face a isto, apetece-me perguntar se porventura não precisam de arquitectos nos hospitais!?!?

Não estão em questão os incontornáveis riscos que esta classe enfrenta na sua profissão, a responsabilidade que tem e o serviço imprescindível aos cidadãos. O que verdadeiramente me causa consternação é o facto de muitos destes profissionais poderem trabalhar em dois e três sítios simultaneamente e, consequentemente, os alegados 1020 euros que ganham multiplicarem-se em mais uma considerável quantia. Não me parece perspicaz nem tão pouco legítimo que, face a esta incontornável realidade de multi-empregos, se reservem ao direito duma greve quando, profissionais dos mais diversos ramos licenciados e mestres, não ganhem nem metade desse valor nem tão pouco terem regalias de serviço de saúde ou quaisquer outros subsídios. não referindo o facto de exercerem profissionalmente sob o precário regime de recibos verdes.

Ora, não são poucos os enfermeiros que conheço, e na sua grande maioria trabalham em diversos sítios fazendo, com uma regularidade que me preocupa, turnos de 16 e 24 horas (normalmente turnos da tarde e noite, por causa dos subsídios........). eu pergunto se as suas faculdades cognitivas, emocionais, biológicas e físicas se apresentam adequadas, após 8 horas, para terem ao seu cargo a responsabilidade da saúde dos seus doentes e, mais ainda, prestarem-lhes um serviço com a competência que lhes é exigida. eu acho difícil. mais, ao trabalharem em diversos locais, criam directamente um excedente de profissionais que, por outros terem 2 e 3 "empregos", outros não o podem ter, porque não há capacidade de absorção laboral nesse sentido! Se não há respeito dentro da classe - apelando ao egoísmo de uns em ganhar mais uns valentes trocados ao final do mês, enquanto outros ficam na miséria - é inconsistente alegar ao respeito da classe pelas outras classes da saúde! Preocupem-se em resolver este tipo de egoísmo interno, e só depois pensem em fazer uma hipotética greve!

vários são os comentários às notícias sobre esta matéria e, regra geral, todas as que defendem esta greve comparam os salários dos enfermeiros com salários de administradores de empresas públicas. caros amigos, se querem fazer uma avaliação criteriosa e efectiva, façam-no com quadros semelhantes ao vosso, com qualificações semelhantes à vossa. Irritam-me estas manifestações que se centram, essencialmente, no aumento dum salários que, per si, já é o dobro e o triplo de muitos licenciados e mestres que por aí andam. O cerne da verdadeira questão é que se os enfermeiros fazem greve há consequências imediatas que afectam a população. se profissionais de outros ramos, nomeadamente das artes, reivindicam e fazem greves, ninguém dá por isso.

apetece-me dizer-vos, com todo o respeito, olhem menos para o vosso umbigo, porque na globalidade das vossas condições laborais, são privilegiados. nos 2 e 3 sítios que trabalham. e o salário efectivo ao final do mês não serão nem os 1020 nem os 1200 euros que, oficialmente auferem.

e doravante qualquer um de vós que me afirme que há falta de emprego em enfermagem, eu digo-vos calma e serenamente: "larguem, então, os outros locais que têm em paralelo ao público, e isso criará mais 2 postos de trabalho. e passa a ideia aos teus pares! assim a coisa compõem-se, mais colegas teus ficam com trabalho e escusam de fazer estas greves absurdas!que tal?"

tenho dito.

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