quinta-feira, 29 de julho de 2010

avanço

 V&A museum.25.07.10 © ana pacheco

por vezes invade-me esta vontade de escrever, e não saber porque verbo, substantivo ou sequer advérbio começar. não começo. não tenho começado, ultimamente. verdade. reside sempre a vontade, que não tem chegado a ser materializada. poderá ser agora. não sei. não me apetecem as descrições exaustivas do que vivo. não me apetecem tão pouco as deambulações sem propósito algum.

os momentos acontecem. eles próprios, cunhados sempre do compasso que exigem. a verdade é que me escasseiam as palavras para os dissecar. gosto do paradoxo com que me deparo todos os dias. a despretensão de uns, e a exuberância que se passeia nas ruas, de outros. já me fez confusão. hoje não me faz. a verdade, sedimentada a cada dia que passa, é que gosto cada vez mais de permanecer aqui. com os rituais e não-rituais que, inadvertida ou assumidamente, acontecem. compro o jornal de dias a dias. sem ter nisso a pretensão da intelectualidade que se poderá depreender. compro-o na procura de saber o que acontece, em presente e futuro, neste lugar onde vivo. há coisas que interessam, outras nem tanto, e outras que nem sequer me detenho a ler. caminho de casa, e páro para o comprar. sento-me depois para o ler. na companhia dum líquido com suficiente cafeína para me continuar a deixar desperta. preciso destes momentos. são minutos, breves - por vezes, de descompressão e dum relativo encontro. tenho tempo, neles. e gosto de ter. antes - antes disso, tive tempo para me deixar deambular em coisas que me preenchem totalmente. e que me fazem querer ficar e ir ao mesmo tempo. como que se a omnipresença fosse coisa possível. ficar aqui neste presente permitindo que surja um futuro que me faça ir. simples.

inícios. já o escrevi que são muito difíceis. e não me lembro de nenhum início que não o seja. este não se distanciou dessa, aparente, regra. mas os entretantos que acontecem hoje tornam-no - a este início, numa dimensão que se consubstancia duma forma implacável - não o sendo com conotações negativas. gosto destes abalos, destes wake up calls que surgem em constância. destas confirmações da escolha que pude realizar. e nisso vão as indecisões e ficam, somente, as certezas.

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