sábado, 7 de março de 2009

30 linhas

tenho a tarefa de escrever 30 linhas sobre as razões que me fazem querer sair deste país - temporariamente? - e partir à descoberta... Conhecendo-me como me conheço, a substância das vontades que me impelem não cabem em 30 linhas... Nem em livros do Lobo Antunes ou do Coetzee... nem tão pouco numa encilopédia, daquelas que se agitam na biblioteca nacional...nem mesmo nas preciosas de Diderot e D'Alembert... exagero? não. não é, de todo, exagero. aos meus olhos não o vejo assim, sob pena de ser aos meus, e não aos de mais ninguém.
por diversas, e não poucas, vezes escrevi sobre o que vivi e que se suspendeu há um ano. não sei se alguma vez transmiti realmente o que significava e significa para mim todo esse mundo de momentos que me fizeram ser melhor em mim... Não quero tornar isto lamechas, porque não é disso que se trata. Desde aí percebi que as coisas tinham o seu timing. Tinham o segundo e a intensidade para acontecerem. E, se nos descuidarmos, num instante passa e será um que desperdiçámos. Não sou muito de desperdícios. Destes, também não. Sinto sempre a correr nos tubos que giram no meu corpo a vontade de ir, conhecer, aprender e ver. Sinto sempre os músculos das minhas forças a contrairem-se quando penso nesse futuro. Medo? Se não falasse de medo, não vos falava a sério. Ainda assim, quero. E hei-de querer sempre.
(ainda olho para uma bavaria que o Térrence me ofereceu quando me vim embora, continua por beber. quantas bebemos juntos!!!!) Olho agora para a minha direita, e imediatamente antes de ver o que vejo da minha janela, vejo e olho para o que vem imediatamente antes - esses fragmentos eternizados em cristais de prata, presente do Tommi, também eles suspensos. na cozinha vive viçosa a plantinha que, no último dia em Eindhoven, a Eszter teve a gentileza de me oferecer... há coisas que não se repetem, sei disso. esta é uma delas. dantes não sabia. e sempre achava que o que vivi se podia repetir num qualquer período da minha vida. não, não se repete. mas sei, olhando para a bavaria, para as memórias cristalizadas em prata, para a invísivel fotossíntese, para o mundo que fica e significa, para as coisas que estão escritas num lugar comum, conscientes da sua singularidade... sei exactamente porque não quero ficar, agora, aqui.
do manancial das possibilidades que inviabilizam o conceito do impossível, ergue-se esta vontade que me move, de há uns tempos até agora e até um outro dia. e se alguém disser que sou uma sonhadora inconsciente, não o contrariarei. No dia em que deixe de o ser, morri.

agora tenho de escrever as 30 linhas. nem sei, muito bem, o que escreva.

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